A dislexia é um distúrbio de aprendizagem que afeta a habilidade de leitura e escrita, apesar de não estar relacionada à inteligência. Diversos autores renomados têm estudado esse tema e suas implicações na educação.
Segundo Sally E. Shaywitz, M.D, especialista e estudiosa da Universidade de Yale, EUA, a dislexia é caracterizada por dificuldades inesperadas e persistentes na aquisição e no uso das habilidades de leitura, apesar de uma instrução adequada, inteligência normal e oportunidades socioculturais.
As dificuldades de leitura associadas à dislexia são persistentes e não são algo que a criança supera simplesmente com o tempo ou com esforço adicional sem intervenções específicas. Sem um apoio adequado, essas dificuldades podem continuar na adolescência e na vida adulta.
Shaywitz enfatiza que a dislexia é um problema neurobiológico. Pesquisas em neuroimagem têm mostrado diferenças na maneira como o cérebro dos disléxicos processa a linguagem. Especificamente, há áreas do cérebro responsáveis pelo processamento fonológico (a habilidade de manipular sons da linguagem) que funcionam de maneira diferente em indivíduos disléxicos.
Shaywitz propõe que a identificação precoce é crucial para o manejo eficaz da dislexia. Ela sugere o uso de uma combinação de avaliações de leitura, testes de processamento fonológico e histórico familiar, já que a dislexia tende a ocorrer em famílias.
A autora sublinha que intervenções apropriadas podem ajudar as crianças disléxicas a superar suas dificuldades de leitura.
Estas intervenções geralmente envolvem ensino sistemático e explícito das habilidades fonológicas e fonêmicas. Programas de ensino que se concentram em decodificação, reconhecimento de palavras e fluência de leitura têm mostrado ser eficazes.
Por sua vez, Margaret J. Snowling aponta que a dislexia envolve um déficit no processamento fonológico. Argumenta que a dislexia não é apenas uma questão de habilidades de leitura e escrita, mas também envolve aspectos cognitivos mais amplos, como processamento linguístico e atenção.
Ela defende que a dislexia é uma condição complexa que pode ser influenciada por uma variedade de fatores genéticos e ambientais, incluindo a exposição pré-natal a certos medicamentos, traumas perinatais e experiências de aprendizado precoces.
Na análise de Snowling, a dislexia não é uma condição estática, mas sim uma condição que pode evoluir ao longo do tempo.
Ela sugere que, embora algumas crianças com dislexia possam apresentar melhorias significativas em suas habilidades de leitura e escrita à medida que envelhecem, outras podem continuar enfrentando desafios substanciais. Snowling ressalta a importância de intervenções educacionais personalizadas e de alta qualidade para apoiar o desenvolvimento de crianças com dislexia.
Assim, Snowling aconselha uma compreensão mais profunda da dislexia para práticas de ensino eficazes. Ela argumenta que, ao reconhecer a complexidade da dislexia e ao considerar as diferenças entre os indivíduos, os educadores e os pais podem dar suporte mais adequado e eficaz para crianças com dislexia.
Já Gavin Reid ressalta que a dislexia afeta não apenas a leitura e a escrita, mas também pode causar dificuldades na memória, na atenção e na organização. Ele destaca a importância de identificar e entender as características individuais de cada criança com dislexia, pois isso permite a criação de estratégias de aprendizagem personalizadas que podem maximizar o potencial de cada aluno.
É essencial que os professores compreendam as características da dislexia para adaptar suas práticas pedagógicas em sala de aula.
Para Reid, assim como Shaywitz, a dislexia é uma condição neurobiológica que pode ser influenciada por uma variedade de fatores genéticos e ambientais. Além disso, Reid enfatiza a necessidade de um ambiente de aprendizagem adaptado e inclusivo para alunos com dislexia.
Ele acredita que a inclusão de tecnologias assistivas e métodos de ensino flexíveis pode ajudar a reduzir as barreiras para o aprendizado e melhorar o desempenho acadêmico desses alunos.
Na visão de Reid, a dislexia não é uma limitação insuperável, mas sim uma oportunidade para desenvolver habilidades de pensamento crítico, resolução de problemas e criatividade. Ele promove a ideia de que, com o suporte adequado e uma abordagem positiva, as crianças com dislexia podem alcançar sucesso acadêmico e pessoal.
Por fim, Rosemary Tannock, pesquisadora em educação especial da Universidade de Toronto, destaca a importância do diagnóstico precoce e da intervenção individualizada para crianças com dislexia. Ela reconhece que a dislexia se manifesta de diversas maneiras e com diferentes severidades. Cada indivíduo apresenta um perfil único de pontos fortes e fracos. Segundo a autora, o apoio adequado pode ajudá-las a desenvolver estratégias compensatórias e melhorar seu desempenho acadêmico.
Conclusão
A dislexia, um distúrbio de aprendizagem que afeta a leitura e a escrita, não define o potencial de ninguém. Pesquisadores renomados, como Shaywitz, Snowling, Reid e Tannock, nos guiam por um universo de informações e possibilidades para auxiliar crianças ou qualquer indivíduo disléxico a alcançar o sucesso.
Compreender a natureza neurobiológica da dislexia, suas manifestações individuais e seu impacto além da leitura é decisivo para um manejo eficaz. O diagnóstico precoce e a intervenção individualizada, com foco em ensino sistemático e explícito, tecnologias assistivas e ambientes inclusivos, são ferramentas essenciais para o desenvolvimento de habilidades e o desabrochar de potencialidades.
Ao unirmos esforços e conhecimentos, podemos construir um mundo onde a dislexia seja celebrada como um universo de possibilidades e não como um obstáculo.
Maurilio Jarduli é colunista do Blog GALILEU, atuou como Conselheiro Pedagógico por 15 anos, e é pós-graduado em Gestão Estratégica/Governança Corporativa – USP.
Referências:
Shaywitz, S. E. (2003). Overcoming dyslexia: a new and complete science-based program for reading problems at any level.
Snowling, M. J. (2000). Dyslexia. Blackwell Publishing.
Reid, G. (2016). Dyslexia: A practitioner’s handbook. John Wiley & Sons.
Tannock, R. (2013). DSM-5 – International Dyslexia Association.