A intenção aqui é discorrer sobre esse tema e deixar um alerta para os educadores, e demais atores da comunidade escolar, quanto à importância da afetividade para o desenvolvimento cognitivo e da aprendizagem.
É fundamental que a equipe pedagógica faça uma reflexão e considere a práxis em sala de aula, principalmente neste momento pós pandemia, com o retorno das aulas presenciais, quando crianças e adolescentes retomam o processo de interação e sociabilização com os amigos e com a comunidade.
Navegando um pouco pelos significados das palavras, quando nos vem à mente o vocábulo AFETIVIDADE, logo o associamos com algo parecido com carinhoso, amorosidade, etc.
O Prof. Silveira Bueno descreve em seu dicionário como sendo afeição, carinho ou qualidade do que é afetuoso.
Para ele, a palavra AFETUOSO, significa aquele “que tem afeto, carinhoso, afável”.
Para entender melhor essa sopa de palavras, fomos lá no Google fazer uma busca no dicionário de sinônimos, daí encontramos para o sinônimo afável o mesmo que acolhedor, amável, amigo, amistoso, bem-educado, etc.
Já no dicionário Michaelis Online, para a palavra “afável”, sinônimo de afetividade para Silveira Bueno, apareceram agradável e “de fino trato com as pessoas”.
O tema “Afetividade e Aprendizagem” denota uma correlação muito importante quando se refere ao universo de uma sala de aula.
Tem aí uma conexão direta que precisa estar permanentemente na pauta das reuniões pedagógicas realizadas pelos principais atores que compõem o front da educação em uma escola.
Se o professor é o fio condutor desse processo em sala de aula, então voltemo-nos para ele com suas competências e sua nobre missão de materializar tudo isso no dia a dia com sua turma.
Para compreender um pouco mais a respeito da afetividade e sua conexão com a aprendizagem, é essencial introduzir uma breve sinopse das teorias do desenvolvimento de Lev Vygotsky, Henri Wallon e Jean Piaget.
“Afetividade é uma das estruturas funcionais da pessoa e atua, junto com a cognição e o ato motor, no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento.”
Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962)
Wallon teve um papel fundamental para o desenvolvimento infantil. Segundo ele, “como indivíduo completo, a criança é constituída considerando as dimensões afetiva, cognitiva e a motora”, as quais, se desenvolvem de forma integrada.
Para Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista de construção da pessoa, quanto do conhecimento.
A emoção, uma das dimensões da afetividade, é instrumento de sobrevivência inerente ao homem. Apud Dantas.
Wallon afirma que a criança é geneticamente social, é totalmente dependente dos outros e das interações interpessoais para sobreviver.
Assim, concluímos a importância da família, e da escola como instituição formadora, para o desenvolvimento integral da criança.
Jean Piaget (1896-1980) atribui ao afeto papel fundamental para o desempenho da inteligência.
Sem o afeto não haveria interesse, também não haveria necessidade e nem motivação e, logo, “perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria inteligência.”
Assim, Piaget afirma que a afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência, conclui: “o afeto faz ou pode causar a formação de estruturas cognitivas”.
Nos ensaios de Charles Odier (1886-1954), onde apresenta os estudos das relações entre psicanálise e os estudos de psicologia infantil de Jean Piaget, ele demonstrou que “as relações afetivas da criança com o objeto mãe, ou outros indivíduos, podemos citar aqui a figura do professor, são responsáveis pela formação das estruturas cognitivas”. Ensaios de PIAGET, Jean. “The relation of affetivity to intelligence in the mental development of the child.”
Para Piaget, os componentes cognitivo e afetivo têm uma função essencial no desenvolvimento intelectual da criança e se complementam.
Piaget descreve, ainda, que há uma relação intrínseca entre estes dois componentes, o que os faz interdependentes e indissociáveis no processo ensino-aprendizagem.
O bielo-russo Lev Semyonovich Vygotsky (1896-1934), psicólogo e pesquisador do século 19, destaca em seus ensaios que o desenvolvimento humano, em especial o das crianças, é fruto das interações sociais. Afirma que o homem se forma na interação com o meio em que está inserido.
Por esse motivo, mais tarde, os adeptos de sua teoria a denominaram de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo.
Os estudos de Vygotsky representam um marco na psicologia da educação, pois nos mostra uma nova compreensão quanto ao desenvolvimento da aprendizagem da criança.
Vygotsky destaca o papel mediador do professor em sala de aula, um elo que une a criança e o conhecimento.
A parte mais extensa e conhecida da sua obra tende para o tema da criação da cultura.
O que interessa aos educadores, em especial, são os estudos sobre o desenvolvimento intelectual, onde ele confere um papel fundamental às relações sociais nesse processo.
Os estudos de Lev Vygotsky, considerando o processo de aprendizagem, resultam do entendimento do homem como um ser que se constrói na convivência com a sociedade. “Quando não há a presença do outro, o homem não se forma homem”, ao contrário dos que veem o homem como resultado dos estímulos externos.
Assim, para Vygotsky, o que fica claro é que não há aprendizado sem a figura de um adulto ou mediador e, neste caso, o papel do professor é diferente daquele previsto por Piaget.
Considerações Finais
O referencial teórico mostrou-nos, na visão dos grandes pensadores da educação, que existe uma relação estreita entre a afetividade e o desenvolvimento cognitivo e, consequentemente, da aprendizagem.
O que nos remete ao universo da sala de aula, onde, de fato tudo acontece, tendo o professor como o ator principal, responsável por conduzir os alunos pela trilha do conhecimento.
Tudo isto converge para a construção do vínculo afetivo entre professor e aluno, quando o professor passa a acolher cada um de seus alunos como um ser único, com suas habilidades e limitações, que precisa de um olhar único, um tempo único.
A afetividade, ou a construção de uma relação afetiva acolhedora, torna o ambiente confiável e a criança se sente segura e proativa nas atividades em sala de aula, com natural evolução de suas habilidades e competências.
Gostou do nosso conteúdo? Compartilhe com a sua comunidade escolar.
Até o próximo!