A ABDA – Associação Brasileira do TDAH define o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) como sendo um distúrbio do neurodesenvolvimento, de causas genéticas, que aparece na infância e, normalmente, acompanha a pessoa por toda a sua vida.
Ele se caracteriza por sintomas de inquietude, desatenção e impulsividade. Também é conhecido por ADHD, na sigla em inglês.
Para a AAP – American Academy of Pediatrics, o TDAH é um transtorno relativamente comum no início da infância e é de grande preocupação de saúde pública em todo o mundo.
O TDAH é uma condição crônica do cérebro que torna difícil para a criança controlar seu comportamento. A condição afeta o comportamento de maneira específica.
Por exemplo, crianças com TDAH geralmente têm problemas para se relacionar com irmãos em casa, com outras crianças na escola e em outros ambientes.
Aqueles que têm dificuldade em prestar atenção, geralmente, têm dificuldade em aprender. Têm uma natureza impulsiva que pode colocá-los em perigo físico real.
Como as crianças com TDAH têm dificuldade em controlar esse comportamento, elas normalmente são rotuladas na escola.
Quase todas as crianças com TDAH têm momentos em que seu comportamento fica fora de controle.
Eles podem acelerar em movimento contínuo, fazer barulho sem parar, se recusar a esperar sua vez e colidir com tudo ao seu redor.
Outras vezes, eles podem vagar como se estivessem sonhando, incapazes de prestar atenção ou terminar o que começaram.
No entanto, para algumas crianças, esses tipos de comportamento são mais do que um problema ocasional. Crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) têm problemas de comportamento tão frequentes e graves que podem interferir em sua capacidade de viver uma vida normal.
O Dr. Russell A. Barkley, PhD, da Universidade de Berkeley, em seus estudos, constatou que as principais alterações neuropsicológicas encontradas no TDAH são as de prejuízos em testes de atenção, de aquisição e de função executiva (são as habilidades cognitivas necessárias para controlar nossos pensamentos, nossas emoções e nossas ações).
O TDAH envolve também um déficit do comportamento inibitório a ele relacionado.
Para a ABDA, o pior efeito colateral do TDAH é a desinformação e o preconceito decorrentes dele.
As limitações de conhecimento sobre o tema no Brasil e o despreparo de pais, educadores e profissionais de saúde para identificar os primeiros sinais, diagnosticar e lidar com o transtorno são falhas que geram sofrimento desnecessário, limitam o desenvolvimento da criança e do adolescente, comprometendo a qualidade de vida de milhões de pessoas com TDAH e de seus familiares.
É muito preocupante, segundo a ABDA, que algumas pessoas insistem em dizer que TDAH não existe, seja pelas mais variadas razões, desde inocência e falta de formação científica, até mesmo má-fé.
Alguns chegam a afirmar que “o TDAH é uma invenção” médica da indústria farmacêutica para obterem lucros com o tratamento.
No primeiro caso se incluem todos aqueles profissionais que nunca publicaram qualquer pesquisa demonstrando o que eles afirmam categoricamente e não fazem parte de nenhum grupo científico.
Quando questionados, falam em “experiência pessoal” ou então relatam casos que somente eles conhecem porque nunca foram publicados em revistas especializadas.
Muitos escrevem livros ou têm sites na Internet, mas nunca apresentaram seus “resultados” em congressos ou publicaram em revistas científicas, para que os demais possam julgar a veracidade do que dizem.
Os segundos são aqueles que pretendem “vender” alguma forma de tratamento diferente daquilo que é atualmente preconizado, alegando que somente eles podem tratar de modo correto.
Tanto os primeiros quanto os segundos afirmam que o tratamento do TDAH com medicamentos causa consequências terríveis.
Quando a literatura científica é pesquisada, nada daquilo que eles afirmam é encontrado em qualquer pesquisa, em qualquer país do mundo.
Esta é a principal característica destes indivíduos: apesar de terem uma “aparência” de cientistas ou pesquisadores, jamais publicaram nada que comprovasse o que dizem.
Dra. Ana Beatriz Barbosa, médica psiquiatra, autora de Mentes Inquietas, membro da Academia de Ciências de Nova York, explica o que há de errado em nossa cabeça: “O defeito está numa parte do cérebro chamada lobo frontal, que fica perto da testa”.
O lobo frontal é uma espécie de gestor executivo do cérebro. A função dele é coletar informações e enviar ordens em forma de impulsos elétricos para as outras partes. Mas, como todo bom gestor, exige pagamento adequado para trabalhar.
No caso, o pagamento é em dopamina, uma substância que regula a interação entre neurônios.
Sem ela, os neurônios do lobo frontal não conseguem conversar direito. Quando isso acontece, o cérebro começa a criar uma reserva de dopamina.
Então, dá início a uma busca desesperada por tudo que promove a produção do neurotransmissor: açúcar, sexo, nicotina, jogo, álcool, drogas ilegais. Entre 17% e 45% dos adultos com TDAH apresentam problemas com álcool. O risco dos portadores de TDAH em viciar em drogas é o dobro, afirma Dra. Ana.
Uma publicação na revista Pediatrics, American Academy of Pediatrics, 2015, afirma que, a maioria dos especialistas concorda que a tendência de desenvolver TDAH está presente desde o nascimento ou pré determinado geneticamente, mas os comportamentos de TDAH geralmente não são percebidos até que a criança comece a frequentar a escola.
Uma razão para esse atraso é o fato de que quase todas as crianças em idade pré-escolar, frequentemente, exibem os principais comportamentos ou sintomas do TDAH como parte de seu desenvolvimento normal.
A medida em que a criança dá início na sua vida escolar, gradualmente os amiguinhos não portadores começam a superar tais comportamentos, porém, as crianças com TDAH não, e essa diferença se torna cada vez mais clara com o passar dos anos.
As crianças com TDAH são tidas como “avoadas”, “vivendo no mundo da lua” e geralmente “estabanadas” ou “ligadas por um motor”, isto é, não param quietas por muito tempo.
Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são desatentos.
Crianças e adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como por exemplo, dificuldades com regras e limites.
Os ambientes escolares podem ressaltar os problemas de uma criança relacionados ao TDAH, porque as atividades em sala de aula exigem uma quantidade maior de foco, paciência e autocontrole.
Esses tipos de demandas não são tão prevalentes em casa ou quando a criança está brincando em grupo, portanto, nesses ambientes, a criança pode ter tido menos problemas.
Geralmente, quando uma criança com TDAH atinge a idade de sete anos, seus pais já perceberam que a desatenção, o nível de atividade ou a impulsividade de seu filho, são maiores do que o normal.
Os pais devem ter notado que seu filho é quase impossível de se concentrar na leitura de um livro, nas tarefas de casa, mesmo por um período muito curto, mesmo quando os pais estão lá para ajudá-lo.
Sintoma de comportamento | Como uma criança com este sintoma pode se comportar |
Desatenção | Muitas vezes tem dificuldade em prestar atenção, sonha acordadoMuitas vezes parece não ouvirÉ facilmente distraído no trabalho ou lazerMuitas vezes parece não se importar com detalhes, comete erros por descuidoFrequentemente não segue instruções ou termina tarefasÉ desorganizadoFrequentemente perde muitas coisas importantesMuitas vezes esquece as coisas ou compromissosFrequentemente evita fazer coisas que exigem esforço mental contínuo |
Hiperatividade | Está em constante movimento, como se “acionado por um motor”Não consegue ficar sentadoFrequentemente se contorce e se agitaÉ prolixo, fala demaisFrequentemente corre, pula e escala quando isso não é permitidoNão pode jogar em silêncio |
Impulsividade | Frequentemente age e fala sem pensarPode correr para a rua sem procurar ver se vem carro primeiroFrequentemente tem problemas para se revezarNão pode esperar pelas coisasFrequentemente dá respostas antes que a pergunta esteja completaInterrompe os outros com frequência |
Quanto à herança genética, de acordo com a ABDA, os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH.
A participação de genes foi suspeitada, inicialmente, a partir de observações de que nas famílias de portadores de TDAH a presença de parentes também afetados com TDAH era mais frequente do que nas famílias que não tinham crianças com TDAH.
A prevalência da doença entre os parentes das crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes mais do que na população em geral, isto é chamado de recorrência familial.
Porém, como em qualquer transtorno do comportamento, a maior ocorrência dentro da família pode ser devido a influências ambientais, como se a criança aprendesse a se comportar de um modo “desatento” ou “hiperativo” simplesmente por ver seus pais se comportando desta maneira, o que excluiria o papel de genes.
Foi preciso, então, comprovar que a recorrência familial era de fato devida a uma predisposição genética, e não somente ao ambiente. Outros tipos de estudos genéticos foram fundamentais para se ter certeza da participação de genes: os estudos com gêmeos e com adotados.
Nos estudos com adotados comparam-se pais biológicos e pais adotivos de crianças afetadas, verificando se há diferença na presença do TDAH entre os dois grupos de pais. Eles mostraram que os pais biológicos têm 3 vezes mais TDAH que os pais adotivos.
Os estudos com gêmeos comparam os univitelinos e fraternos, que são bivitelinos, quanto a diferentes aspectos do TDAH, presença ou não, tipo, gravidade, etc… Sabendo-se que os gêmeos univitelinos têm 100% de semelhança genética, ao contrário dos fraternos com 50%.
Se os univitelinos se parecem mais nos sintomas de TDAH do que os fraternos, a única explicação é a participação de componentes genéticos, ou seja, os pais são iguais, o ambiente é o mesmo, a dieta, etc… Quanto mais parecidos, ou seja, quanto mais concordam em relação àquelas características, maior é a influência genética para a doença. Realmente, os estudos de gêmeos com TDAH mostraram que os univitelinos são muito mais parecidos, também se diz “concordantes”, do que os fraternos, chegando a ter 70% de concordância, o que evidencia uma importante participação de genes na origem do TDAH.
A partir dos dados destes estudos, o próximo passo na pesquisa genética do TDAH foi começar a procurar que genes poderiam ser estes.
É importante salientar que no TDAH, como na maioria dos transtornos do comportamento, em geral multifatoriais, nunca devemos falar em determinação genética, mas sim em predisposição ou influência genética.
O que acontece nestes transtornos é que a predisposição genética envolve vários genes, e não um único gene, como é a regra para várias de nossas características físicas, também.
Provavelmente não existe, ou não se acredita que exista, um único “gene do TDAH”.
Além disto, genes podem ter diferentes níveis de atividade, alguns podem estar agindo em alguns pacientes de um modo diferente que em outros; eles interagem entre si, somando-se ainda as influências ambientais.
Também existe maior incidência de depressão, transtorno bipolar (antigamente denominado Psicose Maníaco-Depressiva) e abuso de álcool e drogas nos familiares de portadores de TDAH.
Tem-se observado que a nicotina e o álcool quando ingeridos durante a gravidez podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo-se aí a região frontal orbital.
Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram causando sofrimento fetal tinham mais chance de terem filhos com TDAH.
A relação de causa não é clara. Talvez mães com TDAH sejam mais descuidadas e assim possam estar mais predispostas a problemas na gravidez e no parto.
Ou seja, a carga genética que ela própria tem (e que passa ao filho) é que estaria influenciando a maior presença de problemas no parto.
Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH, já que isto é raro e pode ser facilmente identificado pela história clínica.
Segundo a biofarmacêutica Takeda do Japão, através do ADHD Institute, existem poucos estudos no mundo sobre as taxas de prevalência (novos casos e os existentes) de TDAH em crianças da pré-escola, idade abaixo de 6 anos.
Em 2017, a Organização Mundial da Saúde, World Mental Health Surveys, fez um estudo de prevalência global de TDAH na infância com base em memória retrospectiva em adultos de 18 a 44 anos.
A prevalência média mundial de TDAH, estimada em crianças e adolescentes < 18 anos, foi de aproximadamente 2,2%, em geral, com intervalo de 0,1 a 8,1%. Veja abaixo um mapa dos principais países dentro do intervalo referenciado.
Considerações Finais
A boa notícia é que há tratamento para crianças portadoras de TDAH.
É muito importante que a criança tenha acompanhamento de um pediatra.
Também é necessária uma forte parceria entre a família e a escola para que seja fechado um diagnóstico o mais breve possível.
O Tratamento do TDAH deve ser multimodal, sugere a ABDA, ou seja, uma combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores, além de técnicas específicas que são ensinadas à criança portadora. A medicação, na maioria dos casos, faz parte do tratamento.
A psicoterapia que é indicada para o tratamento do TDAH chama-se Terapia Cognitivo Comportamental, que no Brasil, é uma atribuição exclusiva de psicólogos.
Não existe, até o momento, nenhuma evidência científica de que outras formas de psicoterapia auxiliem nos sintomas de TDAH.
O tratamento com fonoaudiólogo está recomendado em casos específicos onde existem, simultaneamente, Transtorno de Leitura (Dislexia) ou Transtorno da Expressão Escrita (Disortografia).
O TDAH não é um problema de aprendizado, como a Dislexia e a Disortografia, mas as dificuldades em manter a atenção, a desorganização e a inquietude que atrapalham bastante o rendimento dos estudos.
É necessário que os professores conheçam técnicas que auxiliem os alunos com TDAH a ter melhor desempenho.
Em alguns casos é necessário ensinar ao aluno técnicas específicas para minimizar as suas dificuldades.
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