Leitura e matemática são habilidades essenciais dominadas pela maioria das crianças desde a pré-escola, mas apesar da inteligência adequada e das oportunidades educacionais, muitas crianças apresentam dificuldades que, às vezes, continuam até a idade adulta.
Estudos conduzidos por David Moreau, University of Auckland, New Zealand, indicam que a discalculia, muitas vezes considerada como a contrapartida matemática da dislexia, é caracterizada por uma deficiência grave e persistente em matemática, incluindo dificuldades em usar números e quantidades, aritmética simples e contagem.
Embora o transtorno acomete um aluno por turma com dificuldades relacionadas à matemática, a discalculia permanece relativamente pouco pesquisada em comparação à dislexia.
Os estudos indicam que é frequente ambos os distúrbios ocorrem simultaneamente – dada a presença de um, a prevalência do outro é de aproximadamente 40%.
Segundo o Instituto ABCD, entidade que reúne e dissemina informações sobre esse tema, assim como ocorre na dislexia, os sinais e manifestações de discalculia variam de pessoa para pessoa.
Além disso, esse transtorno pode afetar uma mesma pessoa, de diferentes formas, ao longo de sua vida.
É importante lembrar que as dificuldades de um indivíduo com discalculia não aparecem apenas na aula de matemática, mas também em sua vida cotidiana.
Segundo artigo de Orly Rubinstein & Rosemary Tannock, 2010, a discalculia descreve um déficit específico e grave na capacidade de processar informações numéricas que não pode ser atribuída à dificuldades sensoriais, baixo QI ou educação inadequada, e que resulta em uma falha no desenvolvimento de habilidades de computação numérica fluentes.
Não tratada, a DD, normalmente, persiste além da idade escolar até o final da adolescência e a idade adulta.
Estudos epidemiológicos indicam que a DD é tão comum quanto os transtornos de leitura e afeta de 3,5 a 6,5% da população em idade escolar.
Além disso, a discalculia ocorre em famílias e é hereditária, o que implica fatores genéticos em sua etiologia.
Como as habilidades matemáticas se desenvolvem ao longo dos anos, a insegurança e as dificuldades nessa disciplina também tendem a evoluir com o tempo.
Portanto, é importante identificar a discalculia cedo e agir antes que ela se torne mais grave.
As avaliações diagnósticas para discalculia são, normalmente, realizadas por psicopedagogos escolares e neuropsicólogos, embora psiquiatras infantis e outros funcionários da saúde, ligados à escolar, possam desempenhar um papel na avaliação.
Para um resultado mais preciso, crianças suspeitas devem ser encaminhadas, pela escola, a um profissional habilitado para as devidas avaliações.
Não existe um teste único para avaliar e ou diagnosticar a discalculia.
Os médicos avaliam o transtorno revisando registros acadêmicos e de desempenho em testes padronizados, perguntando sobre o histórico familiar e aprendendo mais sobre como as dificuldades do paciente se manifestam na escola, no trabalho e na vida cotidiana.
Eles também podem administrar avaliações de diagnóstico que testam pontos fortes e fracos em habilidades matemáticas básicas fundamentais.
Como outras dificuldades de aprendizagem, a discalculia não tem cura e não pode ser tratada com medicação.
No momento em que a maioria dos indivíduos é diagnosticada, eles têm uma base matemática instável.
Os objetivos do tratamento, portanto, são preencher o maior número possível de lacunas e desenvolver mecanismos de enfrentamento que possam ser usados ao longo da vida.
Isso geralmente é feito por meio de instruções e técnicas especiais e outras intervenções. No caso das crianças, sempre em parceria com a escola.
É essencial que haja um acolhimento especial por parte da escola. Além da atenção para as crianças na sala de aula, segundo Medically reviewed by ADDitude’s ADHD Medical Review Panel, december 13, 2021, podem incluir:
- Permitir à criança mais tempo em tarefas e testes
- Permitir o uso de calculadoras
- Ajustar o nível de dificuldade da tarefa
- Separar problemas complicados em etapas menores
- Usar cartazes para lembrar aos alunos de conceitos básicos de matemática
- Tutoria para direcionar habilidades básicas e fundamentais
- Fornecer informações complementares por meio de aulas interativas por computador
- Projetos práticos de aulas utilizando materiais apropriados como sólidos geométricos
Se não for tratada, a discalculia persiste na idade adulta, deixando muitas crianças e adultos em desvantagem.
Adultos com discalculia, no entanto, podem ter direito a acomodações razoáveis em seu local de trabalho, isto é questão de entendimento entre as partes.
Eles também podem se comprometer a aprimorar as habilidades matemáticas por conta própria ou com a ajuda de um psicólogo educacional treinado.
Mesmo as melhorias mais básicas nas habilidades matemáticas podem ter impactos duradouros na vida cotidiana.
Alguns sintomas que podem ser identificados em portadores de discalculia | Dificuldade para contar de trás para a frenteDificuldade para lembrar de fatos matemáticos básicos, mesmo tendo passado por muitas horas de práticaDiscernimento numérico fracoDificuldade para entender o valor posicional de algarismosDificuldade para entender a função do número zero no sistema numérico hindu-arábicoDificuldade para guardar números na memória de trabalho enquanto resolve problemas matemáticosAnsiedade relacionada à matemática e qualquer outra atividade que envolva númerosLentidão para fazer cálculosHabilidade de aritmética mental fraca em relação à idade ou ao nível de escolaridadeDificuldade para aprender a ler as horasDificuldade para calcular o tempoEsquecimento de estratégias matemáticas, principalmente de procedimentos longos com várias etapas, como a divisão de números grandesDificuldade para estimar quantidades |
Sinais de discalculia na educação infantil | Dificuldade para aprender a contarDificuldade para reconhecer padrões simplesDificuldade para entender o significado dos numerais (como associar o numeral 3 a um conjunto de três objetos ou à palavra oral três);Dificuldade para entender o conceito de enumeração (associar um número a uma quantidade de objetos) |
Sinais de discalculia nos anos iniciais do ensino fundamental | Dificuldade de aprender e lembrar fatos numéricos, como 4 + 2 = 6;Uso excessivo dos dedos para contar, em vez de utilizar métodos mais avançadosDificuldade para identificar símbolos matemáticos (como + e -) e usá-los corretamenteDificuldade para entender linguagem matemática, como mais que e menos queDificuldade para entender o valor posicional dos algarismos (confundindo 12 e 21, por exemplo) |
Sinais de discalculia nos anos finais do ensino fundamental | Dificuldade para entender conceitos matemáticos, como a propriedade comutativa (3 + 5 é igual a 5 + 3) e a inversão (saber a resposta para 3 + 26 – 26 sem precisar calcular)Dificuldade de selecionar uma estratégia para resolver problemas matemáticosDificuldade para lembrar o placar em jogos e atividades esportivasDificuldade de calcular o preço total de dois ou mais itensEvita situações que envolvam números, como jogos, esportes e outras atividades |
Sinais de discalculia no ensino médio | Dificuldade para entender informações apresentadas em tabelas e gráficosDificuldade para lidar com dinheiro, como calcular o troco ou a gorjetaDificuldade para medir ingredientes em uma receitaInsegurança em atividades que envolvem velocidade, distância e direçãoPode se perder com facilidadeDificuldade para encontrar diferentes estratégias para resolver um problema matemático |
O que diz a lei?
No dia 30 de novembro de 2021, foi sancionada pelo Presidente Jair Messias Bolsonaro e publicada a Lei Federal nº 14.254, que assegura direitos aos alunos com dislexia, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou outros transtornos de aprendizagem.
De acordo com a norma, o Poder Público deve desenvolver e manter programa de acompanhamento integral a esses alunos, o que contempla desde a identificação do transtorno, diagnóstico, apoio educacional e terapêutico nas escolas.
A obrigação de garantir o cuidado e a proteção ao educando com tais transtornos é direcionada às escolas da educação básica, das redes pública e privada.
Nesse sentido, a lei assegura acompanhamento específico, relacionado à dificuldade do aluno, pelos educadores e na escola onde está matriculado, em parceria com o sistema de saúde.
Cabe, ainda, aos sistemas de ensino, disseminar informações e capacitar os professores da educação básica sobre os sinais de transtorno de aprendizagem e sobre como proporcionar atendimento educacional e de saúde aos educandos.
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