O motivo que nos leva a discorrer sobre temas como este é a preocupação que o GALILEU tem em alertar os gestores das escolas, em especial as nossas escolas parceiras, seus professores e funcionários, quanto à necessidade de um olhar vigilante, acolhedor, para esse universo de possibilidades que possa prejudicar o desempenho das crianças em sala de aula.
Já falamos sobre vários temas, indisciplina, Dislexia, TDAH, Discalculia, exposição excessiva às telas e suas consequências a saúde dos olhos e à aprendizagem das crianças, dentre outros.
Todos eles você encontra aqui em nosso blog.
Muitas crianças, ocasionalmente, têm pensamentos que as incomodam e podem sentir que precisam fazer algo sobre eles, mesmo que suas ações não façam sentido.
Por exemplo, eles podem ter preocupação excessiva em “ter ou não azar” se não usarem aquela peça de roupa favorita.
Para algumas crianças, o pensamento e o desejo de realizar certas ações persistem, mesmo que tentem ignorá-los ou fazê-los desaparecer.
As crianças podem ter um distúrbio obsessivo-compulsivo, ou TOC, quando pensamentos indesejados e os comportamentos que eles sentem que devem ter acontecem com frequência, ocupam muito tempo diariamente, por mais de uma hora e interferem em suas atividades do dia a dia, na escola ou no trabalho.
Os pensamentos são chamados de obsessões e os comportamentos são chamados de compulsões, como descreve Children’s Mental Health Center – CDC – Centro de Controle e Transmissão de Doenças, dos EUA.
Apesar de afetar muitas crianças e jovens, pouco se sabe sobre as origens do problema. “Acreditamos que ele seja o resultado da interação de uma falha genética com fatores ambientais”, conta o psiquiatra Leonardo Fontenelle, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Situações como traumas no parto, abuso nos primeiros anos de vida e até infecções estão associadas à gênese do transtorno.
A infância e a adolescência, aliás, são os períodos-chave para o aparecimento dos sintomas iniciais em mais da metade das vezes.
Outras fases e momentos, como o nascimento de um filho, também contribuem: pais e mães predispostos podem desenvolver uma preocupação doentia com o bebê que acabou de vir ao mundo. Veja Saúde online, 12/02/2020.
O Instituto Neuro Saber, 2021, descreve o TOC como uma condição psiquiátrica de ansiedade que causa pensamentos ou sensações indesejadas repetidas (obsessões) ou o desejo de fazer algo para resolver essa questão de maneira repetida (compulsões). Pessoas com TOC podem ter ambos os sintomas, obsessões e compulsões, ou somente um deles.
O pensamento obsessivo ocorre de uma forma impositiva, fazendo com que a pessoa se sinta impotente diante deles. Por exemplo, uma pessoa com TOC pode se vestir somente com uma cor, pois acredita que caso vista alguma outra algo ruim pode lhe acontecer.
O hábito compulsivo pode se manifestar de diferentes formas, como lavar as mãos várias vezes, por exemplo. Embora pareça algo simples de solucionar, os pensamentos obsessivos e os hábitos compulsivos trazem muito sofrimento para as pessoas com TOC, pois elas sentem que não tem poder sobre eles, assim descreve o Instituto Neuro Saber/2021.
O TOC é caracterizado por obsessões e/ou compulsões intensas e recorrentes que causam desconforto severo e interferem nas atividades do dia-a-dia.
As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são indesejados e causam ansiedade ou angústia acentuada.
Frequentemente, são irreais ou irracionais. Não são simplesmente preocupações excessivas com problemas ou preocupações da vida real.
As compulsões são comportamentos ou rituais repetitivos, como lavar as mãos, manter as coisas em ordem, verificar algo repetidamente, ou atos mentais, como contar, repetir palavras silenciosamente.
No TOC, as obsessões ou compulsões devem causar ansiedade ou angústia significativa, ou interferir na rotina normal da criança, desempenho acadêmico, atividades
sociais ou relacionamento com os amigos e familiares, conforme CDC, Children’s Mental Health Center, EUA.
Para o CDC, os pensamentos obsessivos podem variar com a idade da criança e podem mudar com o tempo.
Uma criança mais nova com TOC pode ter pensamentos persistentes de que danos ocorrerão a si mesma ou a um membro da família, por exemplo, um intruso entrando em uma porta ou janela destrancada.
A criança pode verificar compulsivamente todas as portas e janelas de sua casa depois que seus pais estão dormindo na tentativa de aliviar a ansiedade. A criança pode então, temer que ela possa ter acidentalmente destrancado uma porta ou janela durante a última verificação e travamento e daí deve verificar compulsivamente uma outra vez.
Uma criança mais velha ou um adolescente, com TOC, pode temer ficar doente com germes, AIDS ou alimentos contaminados.
Para lidar com seus sentimentos, a criança pode desenvolver “rituais”… um comportamento ou atividade que se repete. Às vezes, a obsessão e a compulsão estão ligadas… “temo que isto é ruim e aconteça se eu parar de verificar ou lavar as mãos, daí não posso parar, mesmo que não faça sentido…”
Pesquisas mostram que o TOC é um distúrbio cerebral e tende a ocorrer em famílias, embora isso não signifique que a criança definitivamente desenvolverá sintomas se um dos pais tiver essa condição. Uma criança, também, pode desenvolver TOC sem história familiar anterior.
O CMI – Child Mind Institute conceitua o TOC como um transtorno de ansiedade que pode afetar crianças e adolescentes.
Crianças com TOC experimentam pensamentos, preocupações ou impulsos indesejados chamados obsessões. As obsessões são muito perturbadoras e difíceis de controlar. Crianças com TOC desenvolvem ações repetitivas – chamadas compulsões – para acalmar a ansiedade causada por suas obsessões.
Muitas vezes, as compulsões não estão conectadas às obsessões de maneira realista. Por exemplo, uma criança pode ter um medo obsessivo de que seus pais sofrerão um acidente de carro.
Para lidar com esse medo, eles podem acender e apagar uma luz cinco vezes. Mesmo que saibam que não faz sentido, eles sentem que o ritual evitará que seus pais se machuquem.
Os profissionais chamam esse sentimento de “pensamento mágico”. As crianças com TOC, frequentemente, podem não perceber que seus pensamentos e medos são exagerados ou irreais.
Crianças com TOC geralmente experimentam tanto obsessões quanto compulsões. Elas usam compulsões para controlar a ansiedade que as obsessões causam, segundo o CMI.
Algumas obsessões comuns que as crianças experimentam incluem: | Algumas compulsões comuns incluem |
Medo de contaminação por germes, resíduos, vômito, produtos químicos, etc. | Lavar as mãos repetidamente |
Precisando que tudo seja uniforme ou simétrico | Travar e retrancar as portas com um certo número de vezes |
Extrema preocupação com a segurança, como pensar que a casa vai pegar fogo ou um dos pais vai se machucar | Alinhar objetos ou tocar partes de seus corpos simetricamente, como coçar as duas orelhas |
Medo de que eles possam fazer algo violento ou terrível | Contar um certo número de vezes ou repetir algo mentalmente |
Pedir repetidamente aos pais para garantir que algo ruim não vai acontecer |
As compulsões podem ser pensamentos em vez de comportamentos, por isso podem ser difíceis de identificar. Por exemplo, a compulsão de uma criança pode estar contando até 20 em sua cabeça.
Crianças e adolescentes, muitas vezes, sentem vergonha e constrangimento em sua condição.
Muitos temem que isso signifique que estão loucos e evitam falar sobre seus pensamentos e comportamentos.
Uma boa comunicação entre pais e filhos, entre a escola e a família, podem aumentar as chances de compreensão do problema e ajudar os pais a apoiar adequadamente seus filhos.
A maioria das crianças com TOC pode ser tratada de forma eficaz com uma combinação de psicoterapia, especialmente técnicas cognitivas, comportamentais e certos medicamentos, como por exemplo: inibidores da recaptação de serotonina (ISRSs).
O apoio imprescindível da escola e a educação da família também são fundamentais para o sucesso do tratamento. Procurar a ajuda de um pediatra ou psiquiatra infantil ou de adolescentes é importante, tanto para entender melhor as questões complexas criadas pelo TOC quanto para obter tratamento.
O CMI sugere que, o tratamento mais eficaz para o TOC é uma forma de terapia cognitivo-comportamental (TCC) chamada de prevenção de exposição e resposta.
Neste caso, o terapeuta expõe a criança a pequenas quantidades daquilo que geralmente desencadeia sua obsessão. Dessa forma, a criança adquire prática em lidar com sua ansiedade em um ambiente seguro.
O terapeuta ajuda a criança a evitar usar sua compulsão. Com o tempo, a criança se sente menos ansiosa e não precisa mais da compulsão. O terapeuta também pode treinar a família da criança para praticar em casa.
Casos mais graves são frequentemente tratados com uma combinação de TCC e medicação. O medicamento mais eficaz para a ansiedade são os chamados inibidores de recaptação de serotonina, ISRSs.
A medicação pode reduzir a ansiedade e ajudar a criança a tirar mais proveito da terapia. Uma vez que as crianças aprendem habilidades na terapia, elas podem tomar menos medicamentos ou parar completamente.
As crianças, frequentemente, retornam ao seu médico, em um ou dois anos após o tratamento, para “sessões de reforço” ou para atualizar as habilidades que aprenderam para controlar sua ansiedade, orientado por CMI – Child Mind Institute – Quick Guide to Obsessive – Compulsive Disorder.
Uma boa notícia, segundo Veja Saúde online, 2020, é que o Brasil está na vanguarda científica e obteve avanços memoráveis no que se sabe sobre o transtorno.
Em 2003, especialistas de diversas universidades se reuniram para formar uma equipe voltada exclusivamente a pesquisar o TOC. Eles entrevistaram mais de mil portadores espalhados por todo o país.
A partir das informações, montaram o maior banco de dados sobre o tema do mundo. “Esse esforço coletivo já gerou mais de 50 artigos científicos e permite fazer conclusões certeiras que vão beneficiar diretamente essa comunidade”, comemora o médico Eurípedes Constantino Miguel, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e fundador do grupo.
Um dos principais achados, cita a matéria da Veja Saúde online, foi a relação do TOC com uma série de distúrbios psiquiátricos: 68% dos respondentes sofriam ao mesmo tempo com depressão, 63% conviviam com quadros de ansiedade generalizada e 35% foram diagnosticados com fobia social. Ou seja: por aqui, ter mais de um distúrbio mental é regra, e não exceção, o que, em tese, modifica o tratamento receitado.
“Os levantamentos ainda mostraram que um terço dos pacientes já teve desejos de se suicidar e 10% haviam efetivamente tentado se matar, o que reflete a gravidade desses pensamentos e comportamentos”, acrescenta o psiquiatra Ygor Arzeno Ferrão, PhD, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Mas como diferenciar uma pessoa com TOC daquela que apenas gosta das coisas devidamente organizadas? “Se os rituais começam a tomar tempo, interferem na qualidade de vida, atrapalham a capacidade de estudar e trabalhar ou geram angústia e solidão, é preciso buscar ajuda”, responde a neuropsiquiatra Dra. Albina Rodrigues Torres, da UNESP de Botucatu. Veja Saúde Abril, 2020.
Os estudos sugerem, segundo o CDC, que não se sabe exatamente por que algumas crianças desenvolvem TOC.
É provável que haja um componente biológico e neurológico. Algumas crianças com TOC também apresentam síndrome de Tourette ou outros transtornos de tiques.
Existem alguns estudos que sugerem que problemas de saúde durante a gravidez e o parto podem aumentar a probabilidade de TOC, que é uma das muitas razões importantes para apoiar o pré-natal durante a gravidez, assim orienta o CDC, Children’s Mental Health Center, EUA – data: abril/ 2022.