O nosso envolvimento com a educação é intenso.
No dia a dia respiramos tecnologia para ajudar as escolas a melhorarem o seu processo de gestão.
Com isso, elas podem focar mais naquilo que constitui a sua mais nobre missão: desenvolver a aprendizagem de seus alunos.
É com esse espírito que discorremos sobre esse método, uma vez que é um dos principais pilares, embora o documento não o mencione diretamente, da Política Nacional de Alfabetização, instituída em 11 de abril de 2019, pelo decreto governamental de nº 9.765, que tem como enfoque implementar uma metodologia de alfabetização com base em evidências científicas, considerando os estudos da neurociência, voltados para o desenvolvimento cognitivo.
Navegando pelos resultados produzidos pela educação brasileira, nos deparamos com números que assustam.
Por décadas o Brasil vem apresentando resultados ruins comparados com os outros países, principalmente aqueles que compõem a chamada OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, ou Organisation for Economic Cooperation and Development, da qual o Brasil postula, há anos, uma vaga como membro permanente.
Os resultados apontados pelo ANA, Avaliação Nacional da Alfabetização, de 2016, mostraram que 54,73% de mais de 2 milhões de alunos, concluintes do 3º ano do ensino fundamental, apresentaram desempenho insuficiente no exame de proficiência em leitura, segundo a Secretaria de Alfabetização do MEC, Sealf.
Desse total, segundo os cerca de 450 mil alunos foram classificados no nível 1 da escala de proficiência, o que significa que são incapazes de localizar informação explícita em textos simples de até cinco linhas e de identificar a finalidade de textos como convites, cartazes, receitas ou bilhetes.
Em escrita, 33,95% estavam em níveis insuficientes (1, 2 ou 3). Embora o número não seja tão alto em comparação com leitura, percebe-se a gravidade do problema diante da descrição desses níveis: aproximadamente 680 mil alunos, de cerca de 8 anos, estão nos níveis 1 e 2, o que quer dizer que não conseguem escrever “palavras alfabeticamente” ou as escrevem com desvios ortográficos.
Quanto à escrita de textos, ou produzem textos ilegíveis, ou são absolutamente incapazes de escrever um texto curto.
Analisando ainda os dados da ANA, 54,46% dos estudantes tiveram desempenho abaixo do adequado em matemática, o que significa que não eram capazes, por exemplo, de calcular soma/adição de duas parcelas com reagrupamento, nem de associar o valor monetário de um conjunto de moedas ao valor de uma cédula.
A comparação dos resultados das edições de 2014 e de 2016 mostra uma estagnação no desempenho dos alunos (INEP-2018a).
Além disso, percebe-se que a situação está muito distante daquela estabelecida pela meta 05 do Plano Nacional de Educação (PNE), a saber, alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º ano do ensino fundamental.
O exame do PISA 2018, o mais abrangente estudo sobre educação no mundo, apontou que o Brasil tem baixa proficiência em Matemática, Ciências e Leitura, se comparado com os outros 78 países que participaram da avaliação.
A edição 2018, revela que 68,1% dos estudantes brasileiros, com 15 anos de idade, não possuem nível básico de Matemática, considerado como o mínimo para o exercício pleno da cidadania.
Em Ciências, o número chega 55% e em Leitura, 50%. Os índices estão estagnados desde 2009, segundo o Ministério da Educação.
Esse cenário compreende, por exemplo, situação de estudantes que são incapazes de compreender textos, resolver cálculos e questões científicas simples e rotineiras.
Se comparado à média dos países da OCDE, o Brasil apresenta resultados ainda piores nas três áreas avaliadas:
Disciplina | Pontuação média OCDE | Pontuação média Brasil | Faixa do Brasil no ranking |
Leitura | 487 | 413 | 55º e 59º |
Matemática | 489 | 384 | 69º e 72º |
Ciências | 489 | 404 | 64º e 67º |
O exame do PISA tem a finalidade de mensurar até que ponto os jovens de quinze anos adquiriram conhecimentos e habilidades primordiais para a vida social e econômica.
Realizado a cada três anos, em 2018, 79 países e 600 mil estudantes participaram do teste, que acontece desde 2000.
No Brasil, foram envolvidas 597 escolas públicas e privadas, com 10.961 alunos escolhidos de forma amostral de um total aproximado de 2 milhões de estudantes.
Cerca de 7 mil professores também responderam aos questionários. A avaliação foi aplicada eletronicamente, em maio de 2018, pelo Inep, de acordo com o MEC/2019.
A educação tem um valor incomensurável na vida de um indivíduo.
É sempre salutar discuti-la e buscar maneira de aperfeiçoamento de suas estruturas e dinâmicas.
No mundo onde já se vive o advento da indústria 4.0, e seu universo digital, não pode haver descuido a ponto de aceitar que o Brasil continue sendo lanterninha com uma educação “sem ponto algum”, considerando que a sua colocação, em Leitura, no ranking mundial é de 57ª.
A situação piora ainda mais quando inserimos neste contexto o desempenho em Ciências e Matemática.
Com base neste cenário, para mitigar décadas de fracasso na educação, foi instituída em 2019 a PNA, Política Nacional de Alfabetização, com o objetivo de levar aos estados e municípios uma diretriz para a educação básica no Brasil, e orienta que todas as crianças sejam alfabetizadas até o terceiro ano do Ensino Fundamental.
A PNA-2019, com foco no método fônico, baseia-se na Ciência Cognitiva da Leitura.
Define alfabetização como o ensino das habilidades de leitura e escrita em um sistema alfabético que expressa a alfabetização baseada nos fundamentos da Neurociência e Psicologia Cognitiva, desenvolvimento da literacia, aquisição da numeracia (cognição matemática) e matemática básica.
O método fônico de alfabetização é o que ensina por meio da associação entre o grafema, ou seja, a letra e o som, sendo este chamado de fonema.
O foco principal da instrução fonética é ajudar a criança, e ou iniciante, a entender como as letras estão ligadas aos sons para formar correspondências letra-som, padrões de ortografia e ajudá-los a aprender como aplicar esse conhecimento em sua leitura.
Assim, com base nas pesquisas de Jean-Émile Gombert, pesquisador da Universidade de Rennes II, “as pesquisas em psicologia cognitiva e neurociências nos dão base para compreender os mecanismos cognitivos e neurobiológicos que entram em ação na aprendizagem.”
Adicional ao processo de alfabetização, a pesquisadora Rhonda Bondie, da Universidade de Harvard, afirma que “as rotinas de aprendizagem são fundamentais para o engajamento dos alunos nas atividades de alfabetização, porque promovem sentimentos de autonomia, pertencimento, competência e significado”, PNA-2019.
Em seu livro “Reading in the Brain”, o neurocientista Stanislas Dehaene descreve que aprender a ler consiste em conectar dois conjuntos de regiões cerebrais que já estão presentes na infância: o sistema de reconhecimento de objetos e o circuito da linguagem.
A aquisição da leitura envolve três grandes fases: a fase pictórica, um breve período em que as crianças “fotografam” algumas palavras; a fase fonológica, onde aprendem a decodificar grafemas em fonemas; e a etapa ortográfica, onde o reconhecimento de palavras se torna rápido e automático.
Imagens do cérebro mostram que vários circuitos cerebrais são alterados durante esse processo, notadamente os da área encefálica occipito-temporal esquerda.
Ao longo de vários anos, a atividade neural evocada pelas palavras escritas aumenta, torna-se seletiva e converge para a rede de leitura adulta.
Esses resultados são ricos em implicações para a educação.
Em recente visita ao Brasil, em 2012, num seminário em Santa Catarina, Stanislas Dehaene apresentou algumas conclusões que confere ao método fônico eficiência superior aos demais métodos, pois através dele uma criança pode aprender a ler e escrever em menos de um ano.
Para Dehaene, todas as crianças, sem exceção, têm basicamente o mesmo cérebro que processa igual sequência de aprendizagem.
Embora muitos não aprovem, não se aprende a ler de mil maneiras diferentes.
Cada criança é única, mas quando se trata de alfabetização, todos, basicamente, têm o mesmo cérebro que processa a mesma sequência de aprendizagem.
Quanto mais respeitar essa lógica, mais rápida e eficaz será a alfabetização da criança, afirma o neurocientista.
Dehaene mostra que é essencial ensinar, explicitamente, às crianças a relação entre fonemas (sons) e grafemas (letras), porque é assim que ativam os circuitos cerebrais que são decisivos para ler, ganhar velocidade na leitura e, além de tudo, dá às crianças autonomia para decodificar novas palavras.
As crianças fazem muitos exercícios em sala de aula para aprender a forma global das palavras, “mas as constatações que temos, neste caso, e o que as imagens cerebrais mostram, é que os circuitos essenciais para leitura não são ativados”, diz.
Uma outra abordagem de Stanislas Dehaene, no caso da hipótese da reciclagem neuronal, ou seja, quando uma região do cérebro é programada para desempenhar uma tarefa, se recicla para uma nova, implica que nossa arquitetura cerebral restringe a maneira como lemos.
De fato, vestígios dessas restrições biológicas podem ser encontrados na história dos sistemas de escrita.
Apesar de sua aparente diversidade, todos compartilham muitas características comuns que refletem como a informação visual é codificada em nosso córtex.
A neurociência da leitura passa a lançar uma nova luz sobre o caminho histórico e tortuoso que finalmente levou ao alfabeto como o conhecemos.
Podemos considerá-lo como um processo de seleção massivo: com o tempo, os escribas desenvolveram notações cada vez mais eficientes que se adequavam à organização de nosso cérebro.
Em resumo, nosso córtex não evoluiu especificamente para a escrita.
Em vez disso, a escrita evoluiu para se ajustar ao córtex.
Através de seus estudos, Dehaene comprova que a ineficácia da abordagem do método global ou construtivista ativa o lado errado do cérebro, sendo confirmado não apenas em laboratório, mas em centenas de experimentos realizados em diversos países.
O conhecimento científico está reorientando as políticas públicas de alfabetização, afirma.
Nos estudos publicados no National Reading Panel – Teaching Children to Read, em 2000, através da meta-análise, tendo como autora Marylin Adams PhD, pesquisadora da cognição, o método fônico foi considerado como prioritário para ser adotado nos Estados Unidos, por ter sido comprovadamente eficaz.
De acordo com esse relatório e o National Early Literacy Panel, de 2009, são cinco os pilares essenciais para uma alfabetização de qualidade: consciência fonêmica, instrução fônica sistemática, fluência em literatura oral, desenvolvimento de vocabulário, composição de textos e produção escrita.
Conforme recentes estudos sobre Neurociência e Educação, “o cérebro é responsável pela forma como processamos as informações, armazenamos o conhecimento e selecionamos nosso comportamento”.
Assim, compreender o seu funcionamento e as estratégias que favorecem o seu desenvolvimento são do interesse dos educadores e de todos os envolvidos na comunidade escolar, Cosenza, R. M. Guerra, L. B., 2011.
Em seus estudos, Jeane Sternlicht Chall, da Universidade de Harvard, grande entusiasta do método fônico, mostra que a instrução fônica sistemática oferece melhores condições de sucesso na alfabetização das crianças, sendo a mais eficiente para o ensino da leitura e da escrita.
Estudos de Neurociência comprovam que falar é fácil, mas ler é mais complexo.
Aprender a ler é uma tarefa difícil, pois exige várias habilidades, como o conhecimento dos símbolos da escrita e a sua correspondência com os sons da linguagem, “Learning to Read – The Great Debate”, 1967.
De acordo com a PNA-2019, outro conceito trazido para a reflexão é a numeracia.
Conforme define a UNESCO, 2006, a numeracia, “não se limita à destreza de usar números para contar, mas se refere às habilidades de compreensão matemática para solucionar problemas e encontrar respostas para os processos da vida cotidiana.”
Um grupo de neurocientistas da Universidade de Stanford, EUA, coordenado pelo Prof. Bruce McCandliss, num estudo de 2015, foi descoberto que os leitores iniciantes que se concentram nas relações entre letras e sons, ou seja, utilizando a metodologia fônica, aumenta a atividade na área do cérebro que está melhor preparado para ler, o hemisfério esquerdo.
Enquanto aqueles cujo foco é na abordagem global, ativam mais o lado direito que processa as palavras como imagens.
Eles concluíram que, aqueles que aprenderam pelo método fônico podiam ler novas palavras mais facilmente porque aprenderam o mecanismo de funcionamento do sistema alfabético, enquanto o grupo que aprendeu pela metodologia construtivista ou abordagem global, não conseguiram progredir por novas palavras porque estas foram identificadas como uma imagem, assim, não lhes foi permitido reconhecer novas palavras.
Por meio dos estudos de comportamento e nos exames de avaliação de desempenho era possível observar isso, porém, o que não se conhecia era o efeito no cérebro.
Nossas Considerações
A Política Nacional de Alfabetização, instituída em 2019, trouxe ao debate os que defendem os paradigmas da escola construtivista e os defensores do método fônico de alfabetização.
Como já dissemos, a discussão é salutar e premente, uma vez que os números colocam a educação brasileira na berlinda.
A posição do Brasil no ranking global da OCDE é de 64ª, considerando o exame do PISA-2018 para Leitura, Ciências e Matemática.
O modelo construtivista de alfabetização predomina no Brasil desde a década de 90, enquanto nesta mesma época os países desenvolvidos estavam adotando, sistematicamente, o método fônico.
Um exemplo, a Coreia do Sul fez essa mudança já na década de 90 e hoje, mais de 80% dos jovens estão cursando a universidade, enquanto no Brasil são apenas 18%.
Está claro que é preciso fazer algo, urgente, para mudar este cenário.
O caos está instalado na rede pública, onde estão matriculados quase 39 milhões de estudantes do ensino básico (Censo Escolar 2021), mais de 82% do total de estudantes do Brasil.
Os da rede privada têm uma performance similar aos dos países ricos, porém, são oásis num universo de escolas deficitárias.
A intenção da PNA-2019, é tentar melhorar a nossa educação focando o ensino básico, começando pelos pequenos da educação infantil.
Daí a base dessa política é o método fônico, pois está evidente que sua eficácia é muito superior, comparando com as metodologias utilizadas no momento.
A eficácia do método fônico é consistente, assim demonstram os estudos em Neurociência da Cognição (Marylin Adams, Dehaene, dentre outros), pois está alinhado com a forma como o cérebro processa os estímulos associados à leitura e escrita.
Gostou do nosso conteúdo? Compartilhe com a sua comunidade escolar.
Até o próximo 🙂