A educação tradicional é aquela que nós vemos hoje em que os alunos, sentados em fileiras na sala de aula, assistem passivamente às explicações de seu professor, ouvindo, copiando, etc.
Neste modelo, compete ao professor ensinar e ao aluno reserva-se o papel de ouvir, reproduzir e repetir aquilo que o professor ensinou.
Por centenas de anos, este tem sido o padrão de educação praticado nas escolas, do ensino básico ao universitário, onde o aluno tem função passiva na construção do conhecimento.
Com a chegada da internet na década de oitenta e sua expansão a partir dos anos 90, novas tecnologias passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas e das empresas.
Nas escolas não poderia ser diferente, novos recursos passaram a rondar a sala de aula e o professor deixa de ser a única fonte de conhecimento no espaço da educação.
O conhecimento, que antes era centrado na figura do professor, a partir dos anos 2000 passa, então, a estar em muitos locais ao mesmo tempo, disponível num simples toque, na palma da mão.
Este universo da informação que é processada e transformada em conhecimento, utilizando-se da aprendizagem e das experiências, provoca uma mudança na relação professor-aluno, numa perspectiva de que o aluno precisa ter um papel mais ativo na busca e na construção desse conhecimento.
Na visão do Prof. Ulisses Araújo, da Universidade de São Paulo, essa é a essência das metodologias ativas de aprendizagem, onde o aluno deixa de ser passivo e começa a ter um papel ativo ou protagonista na construção do conhecimento.
Estamos na quarta etapa da revolução industrial, a indústria 4.0, onde se mescla tecnologia digital, mobilidade e alta conectividade. Isto sem contar com a tecnologia 5G que deverá imputar uma nova revolução, onde máquinas falarão com máquinas, conectando eletrodomésticos, pessoas, carros e rodovias.
Essa mudança exponencial, sem precedentes na história da evolução humana, altera a forma como produzimos, nos relacionamos, consumimos e adquirimos conhecimento.
Este é cada vez mais um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo e até ganhou uma sigla em Inglês, VUCA ou seja, Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity.
O Professor Ulisses chama a atenção para a importância das metodologias ativas de aprendizagem na educação das crianças e jovens, preparando-os para esse novo cenário do mundo VUCA.
Esta é uma realidade que as escolas e os governos precisam refletir, diz o professor.
O que se espera que os alunos vivenciem e aprendam ao trabalhar com as metodologias ativas? Qual o perfil de profissional o mundo do trabalho quer hoje?
Será que são pessoas passivas que simplesmente vão reproduzir aquilo que alguém mandou fazer ou alguém para inovar, gerar conhecimento e novos produtos, o mundo precisa de pessoas ativas.
Sintetizando, é o que se entende hoje, que são as habilidades e competências que o mercado de trabalho quer dos indivíduos, que os profissionais sejam criativos, precisam aprender a dimensionar e resolver problemas, a trabalhar em equipe, desenvolver empatia, se colocar no lugar do outro antes de tomar uma decisão que passa prejudicar o outro, a equipe ou a coletividade.
Dentre as várias metodologias ativas, a mais conhecida no mundo, a mais trabalhada na educação, segundo o Prof. Ulisses Araújo, da USP, é o que se chama de aprendizagem baseada em problemas, em inglês, PBL ou Problem Based Learned, que é muito utilizada nos cursos de medicina e da área de saúde.
Uma outra perspectiva, complementar à PBL, é a metodologia baseada em projetos, ou Project-Based Learning, geralmente ela acontece em grupos onde os alunos trabalham coletivamente.
Eles têm um problema que precisa ser resolvido e trabalham juntos para buscar uma solução para este problema.
Para o Professor Maija Aksela, University of Helsinki, Finlândia, em seu artigo “Project- Based Learning (PBL) In Practise: Active Teachers’ Views Of Its’ Advantages And Challenges”, constatou na prática dos professores que a aprendizagem baseada em projetos (PBL) tem um excelente potencial para aprimorar as habilidades do século XXI e envolver os alunos em tarefas do mundo real.
Foi demonstrado que, quando o PBL é implementado e instruído adequadamente pelos professores, os alunos aprendem mais.
O Conselho Finlandês de Educação, desde 2014, recomenda que os professores implementem abordagens integradas e baseadas em investigação, como PBL.
Os professores que se envolveram neste estudo são ativos, voluntários e participaram de um programa internacional que apoia a implementação do PBL em sua formação.
Aksela ressalta ainda as vantagens dessa metodologia ativa, baseada em projetos, uma vez que reforça o senso de responsabilidade do aluno por sua aprendizagem, o estabelecimento de metas, independência e disciplina.
Além disso, promove a aprendizagem social à medida que as crianças praticam e se tornam proficientes nas habilidades de comunicação, negociação e colaboração, as quais, são essenciais para o momento atual.
O PBL promove um aprendizado interdisciplinar e uma visão expandida dos conteúdos e pode ser adaptável a diferentes tipos de alunos e situações de aprendizagem.
É importante que o professor converse regularmente com os alunos para garantir que estejam no caminho certo e desenvolvendo plenamente suas ideias e habilidades.
Nesta perspectiva de Projetos, como metodologia ativa muito utilizada nos últimos anos, o Professor Ulisses cita ainda o Design Thinking e a Cultura Maker que vêm ganhando força.
Continuamos falando de equipe e trabalho colaborativo onde são identificados os problemas, desenhadas e prototipadas as soluções para estes problemas.
Uma outra metodologia ativa que pode ser implementada, dependendo da área de estudo, é o Estudo de Caso.
Segundo o Professor Ulisses, mesmo na educação básica é possível trabalhar com essa lógica de casos, onde se pega um determinado nível de conhecimento dos alunos, e o professor determina uma meta para que estes aprendam um determinado conceito ou aprendam a lidar com uma certa realidade, através da estruturação de um caso concreto.
A partir daí, é lançado um desafio, por exemplo, em que os alunos precisam trabalhar, pesquisar para entender melhor aquela realidade.
Nesta pegada, o estudo de caso é uma excelente metodologia ativa adotada para enriquecer ou ampliar os horizontes de conhecimento dos estudantes para uma determinada realidade.
José Manoel Moran (2017), Professor da USP, reforça a importância das escolas estarem implementando essa prática e afirma que, as metodologias ativas, num mundo totalmente conectado e digital, se expressam através de modelos de ensino híbridos, com muitas possíveis combinações.
As metodologias ativas são estratégias de ensino com foco na participação efetiva do estudante na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível e interligada.
A junção de metodologias ativas com modelos flexíveis, híbridos traz contribuições importantes para a o desenho de soluções atuais para os aprendizes de hoje, não só na escola, mas também nas organizações.
Considerações Finais
Na concepção de John Dewey, pragmático professor e filósofo norte-americano, “o aprendizado acontece quando compartilhamos experiências, e isso só é possível onde não haja barreiras ao intercâmbio de pensamento”.
Por isso, a escola deve proporcionar práticas conjuntas e promover situações de cooperação na sala de aula, em vez de lidar com as crianças de forma isolada.
Dewey defende que, as ideias só têm importância desde que sirvam de instrumento para a resolução de problemas reais.
Nesta linha, Vitor Henrique Paro, Professor da Pontifícia Universidade Católica de SP, defende que o aluno só aprende quando se torna sujeito de sua própria aprendizagem, assim, para que isto aconteça ele precisa ser protagonista de seu próprio conhecimento.
Dewey e Paro convergem para o que se chama de experimentação na sala de aula, onde o aluno adquire mais autonomia e as respostas não estão prontas, são construídas tendo o professor como mediador e condutor do processo educativo.
Estas são perspectivas ideais, levando-se em conta a busca de autonomia do aluno para que este consiga ter participação mais ativa na aquisição do seu próprio conhecimento.
Há uma percepção por parte das escolas e professores da necessidade de uma mudança na metodologia de ensino e aprendizagem, com aulas mais interessantes, atrativas, com vistas ao engajamento dessa nova geração conectada.
O Professor Ulisses, alerta que não é uma questão apenas de mudança de metodologia, é necessária uma mudança de paradigma, de concepção de educação. Para ele, o professor é a essência de todo esse processo de inovação, em todas as esferas, tanto na escola pública quanto na privada.
Neste sentido, o caminho para essa mudança passa, necessariamente, por uma reestruturação das políticas educacionais do país, colocando o professor no centro das discussões, a exemplo do que foi feito em países como a Coreia do Sul que, nos anos 60, era uma típica economia subdesenvolvida como o Brasil, atolada em índices sociais e econômicos vexatórios, com analfabetismo ao redor de 35%, quando resolveu investir maciçamente na educação básica e inovação.
Hoje, a Coreia tem 82% de seus jovens na universidade enquanto o Brasil possui apenas 18% (Inep base 2017).
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