O Sono e a Sua Estreita Relação com a Aprendizagem

Harvard Medical School, define sono, aprendizado e memória como fenômenos complexos que não são totalmente compreendidos. 

No entanto, estudos em animais e humanos sugerem que a quantidade e a qualidade do sono têm um impacto profundo no aprendizado e na manutenção da memória. 

Pesquisas sugerem que o sono ajuda no aprendizado e na memória de duas maneiras distintas. 

Primeiro, uma pessoa privada de sono não consegue focar a atenção de forma otimizada e, portanto, não consegue aprender de forma eficiente. 

Em segundo lugar, o próprio sono desempenha um papel na consolidação da memória, essencial para o aprendizado de novas informações.

Embora os mecanismos exatos não sejam conhecidos, o aprendizado e a memória são frequentemente descritos em termos de três funções:

a. Aquisição refere-se à introdução de novas informações no cérebro

b. A consolidação representa os processos pelos quais uma memória se torna estável

c. A recordação refere-se à capacidade de acessar a informação, seja consciente ou inconscientemente, após ter sido armazenada

Cada uma dessas etapas é necessária para o funcionamento adequado da memória. 

A aquisição e a recordação ocorrem apenas durante a vigília, mas pesquisas sugerem que a consolidação da memória ocorre durante o sono por meio do fortalecimento das conexões neurais que formam nossas memórias. 

Embora não haja consenso sobre como o sono possibilita esse processo, muitos pesquisadores acreditam que características específicas das ondas cerebrais durante diferentes estágios do sono estão associadas à formação de tipos particulares de memória.  Neuroscience, Sleep and Learning – Harvard Medical School.

Em artigo publicado por Arnaldo Nogaro, Idanir Ecco e Ivania Nogaro, Universidade Regional Integrada, Campus Erechin, RS, relatam que, a relação sono-aprendizagem tem sido relegada e margeada como tema de estudo em educação.

“Esta discussão faz-se necessária diante do quadro vivido por crianças, adolescentes e, até mesmo, adultos na sociedade contemporânea. Por meio das palavras que compõem a abordagem deste texto, a intenção dos autores é alertar pais e educadores a despertar sua atenção para um tema que afeta muitos das crianças e estudantes”.

Segundo Neves et al. (2013, p. 58), sono é um estado comportamental “[…] complexo no qual existe uma postura relaxada típica, a atividade motora encontra-se reduzida ou ausente e há um elevado limiar para resposta a estímulos externos”.

O sono é um evento ativo e de imprescindível para o organismo.

Embora ainda haja muito para se conhecer sobre ele, inúmeros estudos destacam os efeitos negativos de períodos de sono restritos ou insatisfatórios.

Engana-se quem pensa que a relação ser humano-sono é um tema de preocupação exclusiva das últimas décadas em decorrência das características de nossa sociedade e da invasão das tecnologias e modernidades da vida cotidiana do século 21.

John Locke, pensador inglês do século 17, em sua obra “Alguns pensamentos sobre educação”, de 1693, trata do sono pronunciando-se favoravelmente a ele e considerando-o como o “[…] único domínio onde lhe devem permitir plena e inteira satisfação; nada contribui mais para o crescimento e para a saúde de uma criança do que o sono” (LOCKE, 2012, p. 81).

Embora haja autores e referências que fazem alusão ao sono ao longo da história, como é o caso de Locke (2012), a associação entre sono, memória e aprendizagem é relativamente recente, datando de meados dos anos de 1950.

Estes estudos, segundo Stickgold e Ellenbogen (2008), serviram para demonstrar que o cérebro não está “descansando” durante o sono, mas em franca atividade.

“A descoberta do sono REM em 1953, e de sua atividade cerebral característica, detectada por eletroencefalografia, dissipou a ideia de que o cérebro simplesmente descansa enquanto dorme” (STICKGOLD; ELLENBOGEN, 2008, p. 83).

A sociedade humana evoluiu tecnologicamente, criamos muitos artefatos, alteramos vários padrões comportamentais, prolongamos as horas acordados, estendemos nosso dia, adentramos a noite trabalhando e estudando. E Huffington (2014, p. 85), por sua vez, constata que: “Em comparação com hábitos de cem anos atrás, nossos filhos estão dormindo uma hora a menos por noite.” Incontestavelmente, essa evolução, em síntese, representa também, privação do sono.

Inventamos a energia elétrica e aparelhos eletrônicos cada vez mais sofisticados com pigmentação de cores intencionalmente programadas para manter-nos acordados, desenvolvemos uma cultura do “prolongar o dia”, de estendermos a hora de irmos para a cama ou dormirmos tarde, sem nos perguntarmos pela relação e pelos efeitos destes comportamentos em nossa vida e em nossa saúde.

Uma simples pergunta dá indícios dos efeitos de nosso comportamento: se mudou e o que mudou em nossa natureza biológica com todas estas invenções?

Quais as consequências da invenção de artefatos que nos deixam despertos por mais tempo?

Recentes estudos relacionados à ausência ou deficiência de sono mostram resultados preocupantes ou, na pior das hipóteses, devem nos alertar: há sim interferência do atual estilo de vida no bem estar das pessoas (basta ver o surgimento de algumas das chamadas doenças civilizacionais) e nos processos de aprendizagem das novas gerações.

No entender de Mora (2004) há uma clara evidência sobre o sono e ela é de natureza biológica: o fato de que dediquemos tanto tempo a ele indica que a natureza empregou nele algo biologicamente profundo e importante. Ainda sabemos pouco sobre porque é necessário dormir, mas é indiscutível sua necessidade.

Um indivíduo privado “[…] totalmente de sono durante mais de cinco dias apresenta alterações de conduta, até chegar a apresentar transtornos mentais e, em alguns casos, desenvolver psicose com alucinações e conduta paranoide” (MORA, 2004, p. 35).

Ou conforme afirma Huffington (2014, p. 83): “Quando você não dorme o suficiente percebe que não está dando o melhor de si, seja nas decisões de trabalho, nos desafios dos relacionamentos ou em qualquer situação que requeira julgamento, equilíbrio emocional e criatividade.” Arnaldo Nogaro, Idanir Ecco e Ivania Nogaro, Universidade Regional Integrada, Campus Erechin, RS.

Para o Dr. Robert Stickgold, o Sono de baixa qualidade e privação também impactam negativamente o humor, o que traz consequências para o aprendizado. 

As alterações de humor afetam nossa capacidade de adquirir novas informações e, posteriormente, de lembrar dessas informações. 

Embora a privação crônica do sono afete diferentes indivíduos de várias maneiras (e os efeitos não sejam totalmente conhecidos), é claro que um boa noite de sono tem um forte impacto no aprendizado e na memória. Neuroscience, Sleep and Learning – Harvard Medical School.

Segundo pesquisa do Chronobiology and Sleep Institute, ao aprender fatos e informações, a maior parte do que aprendemos é temporariamente armazenada em uma região do cérebro chamada hipocampo. 

Alguns cientistas levantam a hipótese de que, como a maioria dos centros de armazenamento, o hipocampo tem capacidade de armazenamento limitada. Isso significa que, se o hipocampo estiver cheio e tentarmos obter mais informações, não conseguiremos.

Felizmente, muitos cientistas consideram a hipótese de que o sono, particularmente seus estágios 2 e 3, desempenha um papel na reposição de nossa capacidade de aprender. 

Em um estudo, um grupo de 44 participantes passou por duas sessões rigorosas de aprendizado, uma ao meio-dia e outra às 18h. 

Metade do grupo teve permissão para tirar uma soneca entre as sessões, enquanto a outra metade participou de atividades padrão. 

Os pesquisadores descobriram que o grupo que cochilou entre as sessões de aprendizado aprendeu tão facilmente às 18h quanto ao meio-dia. 

O grupo que não cochilou, no entanto, experimentou uma diminuição significativa na capacidade de aprendizagem. CSI – School of Medicine, University of Pennsylvania.

O sono e suas interfaces com a aprendizagem

Segundo os autores Arnaldo Nogaro, Idanir Ecco e Ivania Nogaro, URI Erechin, embora haja diferentes correntes de entendimento desta questão (inclusive uma delas representada por dois pesquisadores italianos que se posicionam de maneira diversa do que convencionalmente tem sido demonstrado.

Ver artigo na revista Scientific American Brasil, ed. º 136) vamos adotar o entendimento predominante de que o sono é fundamental para a consolidação das aprendizagens.

É durante o sono mais profundo (sono REM) que ocorre o fortalecimento de determinadas memórias e o enfraquecimento ou extinção de outras. Para Stickgold e Ellenbogen (2008), compreender o sono pode ser a chave para decifrar mecanismos da memória.

Os autores apresentam estudo bibliográfico sobre o sono e a escola e apontam esta instituição educativa como lugar estratégico para se tratar das implicações do sono para a aprendizagem e a qualidade de vida, no entanto, ponderam que quando abordada esta questão possui o enfoque específico de prevenção e controle de doenças e não sob a perspectiva formativa ou de desenvolvimento de hábitos e atitudes saudáveis mais amplos.

Ressaltam que temas relacionados à importância do sono para a qualidade de vida e a aprendizagem estão ausentes dos livros escolares e pouco ou quase nada se fala nos cursos que formam professores.

Tal constatação reforça a urgência de inclusão desta discussão nos cursos de formação inicial e continuada de professores, em debates e reuniões com pais e na sala de aula com estudantes.

Estas medidas vêm amparadas pelas características da sociedade contemporânea na qual “[…] a alta carga de trabalho e os horários sociais não favorecem a obtenção de um sono de boa qualidade e está relacionada a distúrbios como a sonolência diurna, insônia, entre outros” (SOUZA; FERREIRA, 2014, p. 7).

Pensando em aspectos práticos a serem recomendados às crianças e jovens há um importante fator relacionado à pigmentação azul encontrada em equipamentos eletrônicos existentes dentro e fora de nossas casas. Louzada (2007) relata que estudos recentes indicam que as células ganglionares que contém melanopsina são mais sensíveis à cor azul, e por isso apresentam maior sensibilidade a esse comprimento de onda.

Poderíamos imaginar que a cor azul é mais adequada para ambientes nos quais se deseja obter maiores efeitos da estimulação luminosa, como por exemplo, no início da manhã.

Em outras palavras, no início da noite ou mesmo para projetarmos uma noite de sono mais adequada deveríamos evitar o contato com objetos e ambientes que emitam luz azul.

Sabedores disso poderemos repensar os horários de ver TV, de jogar vídeo game, ficar em frente ao computador…

Em sua pesquisa bibliográfica, o autor Arnaldo Nogaro e seus colegas Idanir Ecco e Ivania Nogaro, constataram “que há a necessidade de repensarmos os hábitos de muitos estudantes no sentido de se conscientizarem a respeito da importância de dormir adequadamente para que haja melhor aprendizado. Sabemos que a cultura instalada dificulta isso, mas é necessário repensar algumas práticas da sociedade atual, uma vez que nem sempre o que ela oportuniza ou coloca à nossa disposição, diz respeito àquilo que é melhor para o bem-estar e a saúde de cada um de nós,” nossas crianças e, principalmente, os estudantes adolescentes.

Foi utilizado parte do artigo, resultado de pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa tendo como autores: Prof. Dr. Arnaldo Nogaro e seus colegas Prof. Me. Idanir Ecco e a Pedagoga e Psicopedagoga Ivania Nogaro – fornecido como material complementar de estudos durante o Curso de Neurociência Aplicada à Educação.CVE2022/USP Extensão.

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